Maikon K atua nas bordas de diferentes linguagens. Tendo iniciado nas Artes Cênicas, sua trajetória é atravessada por diferentes conhecimentos: formou-se em Ciências Sociais (com ênfase em Antropologia do Teatro) e desde 2001 pesquisa meios de alterar a consciência através de práticas corporais e ritos ancestrais. O foco de sua pesquisa é o corpo e sua capacidade de alterar percepções. Sua obra tem influência de práticas xamânicas; nela o performer constrói diversas realidades através de técnicas corporais específicas, por meio de canção, som não verbal, dança, signos visuais e atividades ritualizadas. Interessa-se por dramaturgias híbridas, matérias poéticas abjetas, estados de presença e as relações entre sagrado e profano, grotesco e sublime. No Brasil, recebeu diversos prêmios e apresentou seus trabalhos nos mais importantes festivais do país, como MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo), Cena Contemporânea Brasília, Festival Panorama, FIT Rio Preto. Desde 2020, tem vivido entre a Alemanha e o Brasil. Inicialmente, mudou-se para Berlim com o apoio da Martin Roth Initiative para artistas em risco. Como parte desse programa, durante um ano foi artista residente na HZT (Universidade de Dança de Berlim), onde pôde continuar sua pesquisa interrompida no Brasil devido à censura. Em 2022, recebeu o Fellowship Weltoffenes Berlin em parceria com a Tanzfabrik, para investigar ações transgressoras na arte. Além de suas criações solo, também oferece workshops e colabora como performer e dramaturgo para outros artistas e coreógrafos.
Ser artista é não ter outra escolha.
É fazer da impotência um vulcão que se derrama. Pelo prazer de derramar-se.
Autópsia num corpo que respira. Abrir esse corpo e ver: a engrenagem funcionando. Mudar os órgãos de lugar.
Desconfiar e crer. Os músculos, o suor, o amor sangrando.
É um buraco de minhoca. Sem volta.
É uma bijuteria velha. É nada.
Criar mundos de dejetos e preciosidades.
É físico, por isso metafísico. Vulgar e inoperante.
Volátil e insistente. É sufocante.
É perseguir a morte. Esfaquear o último momento.
Lamber o chão com paciência. É finalmente gozo.
É enganar limites.
À beira do abismo, abandonar uma pedra. Ser a pedra. Ser a cabeça que recebe a pedra.
Brincar com as próprias tripas.
Ridículo. Sem culpa.
Saborear a decrepitude.
Nem loucura. Nem realidade.
É nunca um pássaro, nunca uma baleia, nunca uma formiga. Por um instante, humano.
É uma imagem que nunca se completa.