→ Criação, textos, canções e performance
Maikon K
→ Colaboradores
Interlocução: Patrícia Saravy
Figurino: Faetusa Tezelli
Luz: Fábia Regina
Som: Beto Kloster
Orientação sonora: Iria Braga
Fotos: Lauro Borges
Edição de vídeo: Stephany Mattanó
Câmera em estúdio: Tathy Yázigi
Cenotécnico: André Baliú
Design gráfico: Adriana Alegria
Produção: Maikon K e Patrícia Saravy
Assessoria de imprensa: Victor Hugo Gabardo
→ Distribuição/produção
Corpo Rastreado
→ Duração
1h30
Rito neomedieval.
Liturgia erótica.
Paródia sombria.
Exorcismo de formas e gêneros.
Só há um signo possível: o caos.
Triturar os clichês até chegar na medula. Champanhe, gasolina, leite e sangue. Motosserra, colchão, pregos, microfone. Beleza e terror. O artista é o ídolo autoimolado, a marionete erótica, o tabu violado.
Neste trabalho, Maikon K se inspira na obra literária homônima de Georges Bataille. Ele absorve as imagens de Bataille e cria o seu próprio Ânus Solar. O ânus como tudo aquilo que rejeitamos, a cegueira reveladora, o contrário do que queremos mostrar. O ânus misterioso e temido. Buraco negro devorador de galáxias, sol radioativo, sangue coagulado, arauto da destruição e início.
A performance se instaura como um campo ritual impuro onde se misturam as linguagens: canto, vídeo, dança e teatro, na busca por uma experiência caótica, um corpo em pedaços, fragmentado em discursos e formas. Uma metralhadora giratória que esporra balas de todos os calibres e substâncias. Evocam-se a cegueira coletiva, os ídolos vazios, o gozo, os antros, deidades, sacerdotes, putas, o mito do artista em busca da visão, o apocalipse que nunca chegará.
Realizado com incentivo do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, estreou em 19 de abril de 2017, num galpão no centro de Curitiba.
Um corpo só é um corpo após ser despedaçado e ter seus pedaços entregues à multidão. Um corpo só é um corpo após ser desejado, devorado, digerido. Um corpo só é um corpo depois de ter gritado, vertido sólidos e líquidos, convulsionado. Um corpo só é um corpo depois de ser penetrado e abandonado à solidão de ser um corpo. Um corpo só é um corpo após sentir o frio, o calor, o desmaio, a fome, a dor. Estraçalhado pelo ódio e pelo amor. Um corpo só é um corpo após sair do corpo e voltar. O corpo pode ser beijado, amado, rejeitado, operado, mas nunca transcendido. Não se transcende o corpo. É dele a vitória final. Ele é o alvo de todas as armas. É ele a ampulheta vertendo sangue, a locomotiva, a bomba relógio da morte, berço túmulo do agora. São dele esses pedaços que escorrem pelas paredes.
Em O Ânus Solar, performance de Maikon K inspirada no texto de Georges Bataille, é assinado um pacto de violência. Depois de um primeiro momento contemplativo no espaço da loja de móveis, com a presença do performer próximo a uma pilha de colchões e a virtualidade desse ambiente dobrado por um grande espelho; fundem-se imagens lisérgicas da lava fervente de um vulcão, o pênis amarrado a uma pedra repetindo um movimento pendular e a masturbação junto a uma vela acesa. Nesse rito é oferecido champanhe ao público e o performer liga uma motosserra. Mutila colchão e espaço. O ato sexual é mutilado junto ao meu corpo, que ofereço para esse sacrifício. A motosserra é um falo grande e potente, destruidor, barulhento e fedendo a querosene. Tritura uma parede/porta acesso para a outra sala, onde se realizará um culto profano a partir da obra de Bataille. É um falo endeusado para que possamos ver a sua decadência. Um raio fulminante, ironia mortal que mutila a torre de um império. Missa ocultista paródica a todo o poder. Esse poder que sofremos na pele todos os dias, em todos nossos atos, em todas as relações. Nesse pacto não assinado ao que nos resta apenas obedecer, não temos outra saída. O poder que é central nos trabalhos de Maikon K age sobre os nossos corpos. A motosserra de Maikon K responde a tudo que nos prende e amordaça. Rompe essas correntes de leis normatizadoras nada interessadas na subjetividade. Me diz agora: morte ao Estado!