→ Idealization
Diego Ponce de Leon
→ Photography
Kazuo Okubo
→ Realization
Cena Contemporânea - Brasilia International Festival
Performance that gathered 115 people in the context of the Cena Contemporânea - Festival Internacional de Brasília, in response to censorship of artists in Brazil in 2017. The photo was taken in front of the National Museum of the Republic, in the same place where Maikon K was detained by the military police during his performance DNA of DAN. The artist appears standing in the center of the photo.
On July 15, 2017, the performance "DNA of DAN" was interrupted by military police in the city of Brasília, federal capital of Brasil, in the square in front of the National Museum of the Republic. The policemen damaged the installation and carried Maikon K to the police station, under the charge of Obscene Act.
On September 2, 2017, Maikon K returned to react the performance in the same place, at the invitation of the international festival Cena Contemporânea. In the morning, Maikon K joined 115 people to make this collective photo in protest against censorship of the arts in Brazil.
Chego a esta terra devastada.
O vagabundo eu sou. O viado, o arrombado, o pervertido. O esquerdopata, o comunista, o narcisista, o sem talento. O aliciador, o corruptor. Eu sou o bode expiatório do seu cristo.
E aqui eu cito as vossas palavras, que me chegam como ameaças de Facebook. Seus perfis falsos têm a imagem do filho de deus, da bandeira nacional e do político que vai salvar o país em 2018.
Eu sou pseudo artista. Eu sou boiola. Eu sou bandido.
Eu sou o câncer na tua língua. Eu sou um vírus.
Eu sou o erro do sistema. Eu sou o lixo.
Mas nunca serei sua vítima.
Tirem as crianças da sala. Furem seus olhos se for preciso.
Mas que elas não vejam.
O que vocês estão fazendo.
Corram com elas no colo. Tranquem seus quartos. Preservem sua pureza.
Vocês as usam como escudos humanos.
Atrás delas, vocês miram e atiram: o alvo é meu corpo.
E as condenam a serem como vocês: imagem e semelhança.
Eu me deformo.
Pra lhes mostrar que estou vivo.
Me ofereço, mas não crucificado. Meus dentes, arreganhados, mordem a maçã.
A multidão me penetra, todos têm seu pedaço, mas estou intacto.
Xamã-travesti-terrorista
ídolo autoimolado
Há prazer no meu rosto e em cada célula, um transe.
Não condeno meu corpo: é dele a vitória final.
Meu gozo é o que eu tenho de mais precioso pra oferecer ao mundo.
Corpo que é meu altar: exorcista de velhas imagens.
E pra vocês eu deixo polido: o pau de arara da sua moral.
Recriem infinitamente o rito que mais adoram: pregos entrando na carne.
(é esse o seu triste tesão, sempre há sangue nas suas orações)
Meu gozo? Aqui está. E não é santo.
Vocês nunca irão vencer. Porque elegeram o inimigo errado: seu próprio corpo.
E como não têm coragem de matar a si mesmos, querem matar o outro.
Venham. Estou gemendo. Sigam os meus gemidos. Vocês têm medo?
Minha glória é confundi-los.
Tirem as crianças da sala.
Em breve elas serão assim, como vocês.
Eu me transformo. Porque nunca serei o que vocês querem.
Vocês estão espumando.
Covardes. É a morte que fala através de vocês.
Vocês são bestas ungidas com o terror de todos os sacrifícios.
Vocês são a mordaça e o cabresto.
Eu sou o coração selvagem que não se ajoelha no escuro.
O jorro de porra no seu olho.
Vocês falam em nome da moral?
Eu falo em nome do Caralho da Boceta e do Cu, que vocês condenam mas permitem que vocês se aliviem. Eu falo em nome de tudo aquilo que não pode ser dito num tribunal, numa igreja, em praça pública. A minha moral é essa.
O meu deus ama as bichas e o sexo anal. O meu deus apoia o divórcio, o poliamor, a legalização do aborto e das drogas, o casamento gay. Abençoa as travestis, transexuais, os ateus. E para o meu deus, vocês não têm salvação.
Essa é minha arte. Esse é o meu playground.
Eu brinco com deus e o diabo, em mim eles são um só.
Em mim eles não lutam: copulam.
Estou em paz.
Vocês me querem morto, mas falam de dentro de seus caixões.
Eu não irei com vocês.
Eu não tenho o que confessar.
Eu sou minha própria criança.
Terrível e livre.
Este é o poder que eu venero.
Seus punhos cerrados não vão me acertar.
pra que ser artista se eu posso ser um pastor?
pra que ser artista se eu posso ser traficante?
pra que ser artista se eu posso ser presidente?
pastor
traficando a fissura das almas
traficante
governando mentes fritadas
presidente
abatendo seu rebanho
por que ser artista se eu posso ser um cidadão de bem?
pra lembrá-los
que nunca serei um de vocês.
pra fazê-los sentir
que já estão mortos e fedem.
Eis a minha magia:
acabo de urinar nas suas caras
e vocês acharam que era a chuva
refrescando os seus pensamentos.
Não sou eu o autor. Eu não criei nada disso.
Transcrevo essas palavras ditadas pelo Espírito.